Apesar das aparências, casos de infarto na realidade diminuíram, revelam dados da Secretaria Estadual de Saúde
Por Vanessa Moreno
Uma investigação realizada pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-MT) revela que, contrariando a aparente tendência de aumento, o número de infartos em Mato Grosso apresentou uma queda significativa de 2018 para 2023. Embora o infarto ou ataque cardíaco ainda seja uma das principais causas de mortes em todo o Brasil, a realidade mostra que os casos estão apenas sendo mais divulgados, não mais frequentes.
Segundo informações oficiais da SES-MT, o número de internações por infarto diminuiu de 1.934 em 2018 para 1.246 em 2023. Além disso, os óbitos por infarto também passaram por uma redução notável, indo de 1.233 em 2018 para 800 em 2023. Esses dados desmentem a percepção de um aumento contínuo nos casos de infarto, oferecendo um olhar mais otimista sobre a situação.
O médico cardiologista e diretor presidente do Hospital Beneficente Santa Helena, em Cuiabá, Marcelo Sandrin, ressalta que o aparente aumento também pode ser atribuído, em parte à maior investigação das causas mortis. “Esse “aumento” do infarto também vem da maior possibilidade de atendimento e investigação”, afirma o especialista.
A frequência na divulgação de mortes por infarto acendeu na população uma preocupação quanto à Covid-19 e a vacina. “As vacinas são de nova tecnologia e obviamente a possibilidade de efeitos interferindo no sistema existe”, disse o cardiologista, que embora seja a favor do uso de vacinas, afirma que gostaria que houvesse uma tecnologia mais certificada na produção das mesmas. “Eu sempre defendi as vacinas, apesar de estar sempre com o pé atrás com a nova tecnologia”.
Já o coronavírus, causador da Covid-19, possui grande potencial trombótico e deixou muitas sequelas, segundo Sandrin. “A Covid-19 tem potencial de estragar a vida da pessoa por diferentes razões e uma delas é levando à trombose”, explica Sandrin. Trombose de extremidades, trombose de vasos importantes, trombose pulmonar/embolia pulmonar e o infarto agudo do miocárdio por coagulação dentro das coronárias, assim como os acidentes vasculares são algumas das consequências do vírus.
“Tanto é que se agregou o uso de anticoagulante até precocemente, além de agentes anti-inflamatórios, para o tratamento da fase aguda dessa doença e depois o acompanhamento das pessoas. Tem pessoas que até hoje estão tomando anticoagulante”, destaca.
Infarto x Parada Cardíaca
Infarto é um evento decorrente da dificuldade que o coração tem de exercer a sua função, ocasionando a falta oxigênio no cérebro ou até mesmo quando há a parada completa das funções do coração. “Atinge o sistema gerador de pulsos elétricos tão fortemente e o coração para. É um evento catastrófico, havendo a possibilidade de reversão, mas dependendo da causa e de como for atendido, pode haver complicações, sequelas e até óbito, mesmo ressuscitando na unidade de terapia intensiva (UTI)”, relata o médico.
Já a parada cardíaca é caracterizada por ausência de pulsos de grandes artérias, levando ao desfalecimento de uma pessoa. “A parada cardíaca não quer dizer só pelo batimento cardíaco, é também pela ausência de pulsos, especialmente nos grandes vasos cerebrais, nas carótidas, no pescoço e na região inguinal bilateral. Quando você caracteriza isso, independentemente de estar respirando, com o coração batendo pouco, não batendo ou aceleradíssimo, você está perante do que chamamos de parada cardíaca”, explica.
Alertas e cuidados
Dor no peito, no pescoço, no braço esquerdo, tontura, falta de ar, cansaço são sinais de alerta para o infarto. Ao procurar atendimento médico, após a realização de exames como eletrocardiograma e exames de sangue com alterações constatadas, o risco de vida é eminente.
“Sempre valorizamos muito o atendimento cardiovascular e a prevenção, porque tecnicamente desde o passado, o coração é o centro da vida. Hoje é o centro do amor, ainda, mas quem domina tudo é o cérebro”, descontrai Marcelo.
A principal consequência de um infarto devastador é a falta de oxigênio no cérebro, que pode causar o acidente vascular cerebral (AVC), segunda principal causa de morte no Brasil. O AVC pode levar a morte ou a sequelas significativas, tanto em nível de funções cardíacas, quanto de outros órgãos, especialmente no cérebro.
Quanto aos cuidados, ao ser questionado sobre os fatores de risco, Sandrin dispara “Os fatores de risco, apesar de muito bem divulgados, estão sendo pouco valorizados e controlados”. Segundo o médico, muitas pessoas vivem na corda bamba, principalmente da aterosclerose coronariana, que é um dos fatores mais importantes para o aparecimento do infarto agudo do miocárdio.
O fumo é o principal fator de risco para o infarto. “O fumo é devastador para aterosclerose e é absolutamente controlável”, ressalta o médico. A bebida alcoólica é outro fator polêmico, pois há quem defenda que o uso em pequenas doses pode ser benéfico. “Já houve aí há algum tempo pessoas defendendo o uso de bebidas alcoólicas em pequenas quantidades, dizendo proteger porque relaxa. Hoje sabe-se que qualquer quantidade de álcool é deletéria ao organismo”, explica.
Glicose alterada, obesidade, sedentarismo, estresse, drogas, colesterol, entre outros, figuram na lista dos fatores que mais causam infarto. “Você tem que cuidar de todos esses fatores de risco e alguns é só com investigação, por isso é importante a periodicidade dos exames, principalmente nas famílias que possuem casos de infartos”, afirma Sandrin.
Além da investigação e periodicidade dos exames já mencionadas, a alimentação saudável e a redução nos níveis de estresse são essenciais para evitar o infarto. Além disso, os exercícios físicos, para combater o sedentarismo, devem ser priorizados, mas com muita cautela.
“Sempre indicamos atividades físicas para prevenção de infarto agudo do miocárdio, mas você tem que saber os seus limites e estar bem direcionados”, alerta o médico. Pessoas que tem histórico de doenças cardiovasculares na família, idade avançada ou fatores de risco, precisam buscar orientação médica quanto ao tipo de esporte deve praticar. “É muito comum a pessoa passar por uma consulta, não ter nada e já logo querer arrebentar na academia, porque o verão está chegando. No final do ano isso é uma práxis”, completa.
Mato Grosso é um estado onde predominam as altas temperaturas, por isso é recomendável que os exercícios físicos sejam praticados nos períodos mais frescos do dia e sempre com muita hidratação. “A desidratação, o esforço e a própria temperatura elevada pode levar a um estresse hemodinâmico tão grande, que pode levar a pessoa a ter espasmos de coronária”, explica o médico relembrando os inúmeros casos de morte registrados durante as práticas de exercícios físicos.